Durante todas as longas manhãs da semana seguinte eu esperei,
durante o tempo que pude, para que ela entrasse novamente, balançando aqueles
sininhos estrategicamente colocados em cima da porta daquele café. Sentado
naquele mesmo banco, de frente para a porta, tomando o mesmo café simples e
lendo aquelas mesmas notícias, eu esperava ansioso por ela. O caderno de
esportes era o auge de minha expectativa e nada acontecia, nem nos times de
futebol, nem no sino. Às 07h30min eu me dirigia para o ponto de táxi onde um
dia me atrasei por deixá-la tomar aquele carro e meu coração.
Todos os dias, atrasado, eu aguardava aquele mesmo táxi com
uma roda diferente e uma boina no motorista, que, como que de propósito,
atrasava junto comigo. Após tanto tempo, eu ainda me perguntava por que ela
teria sumido. – Estava me evitando? Teria ela, ao menos, me notado? - Meu fiel
motorista, com os óculos abaixados, havia me perguntado sobre ela e havíamos conversado
várias vezes, ao som dos limpadores virando no vidro ou do rádio tocando
Sinatra. Descobri o endereço para o qual ele teria a levado, não tão diferente
do meu, e isso me deixou angustiado – Deveria tê-la acompanhando.
Após um longo dia de trabalho, voltando par casa com meu
motorista amigo, resolvi que tudo seria diferente. Iria esquecer toda aquela
bobagem e me convencer de que o acaso acontece bem mais vezes que o destino.
Dessa vez paguei a corrida sem gorjeta, me convencendo de que agora as coisas seriam
diferentes. Por dois segundos pensei direito, e resolvi que o pobre taxista não
deveria ser o primeiro com quem eu deveria efetivar esse novo eu. Acrescentei o
valor de sempre e um ‘boa noite’ cordial.
Na manhã seguinte o pedido foi um expresso e nada de
jornal, o acompa- nhamento ficou por conta dos cinco pãezinhos na cesta de palha
que acompa- nhavam meu pedido somente às quintas. Enquanto eu me deliciava com
aquela quase-meia-dúzia de maravilhosos mini-desjejuns fui obrigado a me conter e
evitar o levantar de cabeça ao ouvir o sininho balançar. Duas ou três vezes não
me contive e olhei, sem muita surpresa.
Pronto para sair, deixei a conta na lista de ‘clientes a
pagar’, recolhi meus poucos pertences e rumei para a porta, decidido a não me
atrasar novamente. Na pressa para alcançar o primeiro táxi que passasse,
esbarrei numa moça que acabara de entrar. Pedi todas as desculpas que cabiam no
tempo de não me atrasar e atravessei a rua sem olhar para trás. Apanhei um
carro diferente daquele de costume e ao término da determinação de meu destino
pude ver aquela capa de chuva, enrolada nos braços da jovem que eu acabara de
atropelar.